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Especial Dia da Consciência Negra

Hoje, no Dia da Consciência Negra, para dar visibilidade às experiências que muitas vezes passam despercebidas no mercado editorial, convidamos algumas de nossas autorias para compartilhar um pouco de suas experiência a respeito de como é escrever e publicar fantasia sendo pessoas negras. A seguir, reunimos estes relatos.


Quando nos entendemos como seres negros nos deparamos com a esmagadora sociedade de forma muito mais consciente de como ela opera para sempre cobrar mais de nós em todas as áreas existentes, e a escrita não é diferente. Há um padrão evidente do que vende, de quais histórias valem a pena serem lidas, que vivências são dignas de compaixão e admiração. Ficamos ali, à deriva, entendendo e, ao mesmo tempo, não entendendo por que essa grande máquina opera dessa forma.

Nossa trajetória se torna mais complexa quando nos encontramos em outros recortes sociais, além da cor de nossas peles, e ainda mais se somarmos tudo isso ao que escolhemos evidenciar em nossas histórias: nossa vivência, história e, principalmente, quando escolhemos ser os protagonistas.

Vejam bem, eu não escrevo histórias eurocêntricas, meus personagens fogem do padrão, busco retratar diferentes narrativas através do viés de diversos grupos minoritários, extravasando os meus próprios sentimentos e experiência de vida através de histórias de fantasia e ficção, focando sempre no conteúdo histórico e na riqueza cultural do nosso país. Ser uma autora negra é viver entre a ânsia de criar um espaço seguro para aqueles que, assim como eu, ficaram muito tempo sem poder se ver, e também com medo de ser invisibilizada por não ser a cara e a mente do que vende.

Minhas palavras são para aqueles que buscam se ver em histórias sem a cobrança de ser o que é “aceitável” ou “seguro”… Sem ter que se contentar em ser menos! Se tu nunca foi abraçade por algo que te representasse, seja pela falta disso, seja pela grande gama de conteúdo preconceituoso ou por te dizerem que você não é digno disso, se permita ser abraçade pelo que eu crio.

Em suma, ser uma autora negra traz uma mistura de sentimentos, e mesmo sabendo que nunca vou agradar certos nichos, eu não me vejo fazendo mais nada que não seja criar.

✍️ Escrito por: Mariana D. Santos (@gatovesgo_escreve) | Autora de “Os limites de Obirici” (Vale Fantástico: Sangue, sonhos e relâmpagos) e de “Quarto 37” (Hotel Fantástico Vol. 2023)


Daria um filme: uma negra e uma criança nos braços…

Realmente daria.

E o final desse filme pode ser escrito por todos nós.

A fantasia nos ensina que dor também é matéria-prima, e toda cicatriz pode virar feitiço.

Escrever nunca será somente a denúncia crua. Também pode ser a cura: doses homeopáticas de manifestos que — sim, eu creio — podem remediar os maiores males da humanidade.

No filme da minha vida, meus filhos são livros. Nos meus sonhos, meus filhos mudam o mundo.

✍️ Escrito por: Raquel Souza (@ladyraquelsouza) | Autora do “Quarto 200” (Hotel Fantástico Vol. 2022)


Escrever fantasia não é simples. É transformar os dilemas e contradições do cotidiano em algo mágico e simbólico. É um refúgio, sim, mas não um refúgio perfeito. Mesmo entre dragões e reinos distantes, há muito que ainda precisa ser debatido, criticado e repensado. Criar mundos exige lógica e coerência, algo que, ironicamente, a própria realidade muitas vezes não tem.

Mas em universos onde sapos falam, minotauros guerreiam e seres abissais governam mares, por que um elfo de pele marrom ainda incomoda tanto? O Dia da Consciência Negra é um convite à reflexão, um chamado para olhar além das páginas e perceber o quanto certas barreiras continuam vivas, mesmo na imaginação. É tempo de reconhecer, agir e escrever novos caminhos, mais justos e verdadeiramente diversos.

Porque a verdadeira fantasia é aquela que ousa imaginar um mundo onde todos possam existir, sem precisar pedir permissão.

✍️ Escrito por: Vinícius Nunes (@shadowvini) | Autor do “Quarto 15” (Hotel Fantástico Vol. 2024)


Minhas primeiras referências de fantasia vieram da TV, nos anos 90/2000, onde os protagonistas não se pareciam comigo ou com a maior parte dos meus amigos. Quando comecei a escrever minhas próprias histórias eu já era pai, então decidi enchê-las desses personagens, para que ao lê-las, minha filha pudesse se reconhecer neles.

Todos os meus contos tem personagens negros, mesmo aqueles onde não há uma descrição explícita, há situações onde privilegio características de sua personalidade ou exploro a forma como os demais lhe tratam. São detalhes que passam despercebidos às vezes, mas que adicionam uma nova camada para quem lê com essa compreensão.

✍️ Escrito por: Bruno Sower (@brunosower) | Autor do “Quarto 384” (Hotel Fantástico Vol. 2024)

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