O começo do fim do mundo do coelho ocorrera certa tarde quando, ignorando os avisos de sua parceira, saiu para procurar comida.
Ele nem percebeu a raposa que o seguia, até que ela estivesse, literalmente, no calcanhar dele, seguindo-o até dentro de sua toca atacando o casal e fazendo o coelho desmaiar.
O despertar fora extremamente dolorido quando percebeu que estava soterrado e, com muito esforço, cavou um caminho para a superfície, cego de um olho e sozinho.
Do céu descia um material acinzentado, que cobria plantas, grama, pedra.
As árvores, mesmo as mais altas e antigas, se encontravam retorcidas e mortas.
O alimento era cada vez mais escasso, mal havia grama para comer, as cinzas deixavam tudo com um gosto horrível e que o deixava doente, quase morrendo.
Passava cada vez mais tempo na nova toca, que conseguira achar por acaso e, se não fosse a necessidade de se alimentar, ele permaneceria para sempre abaixo da terra.
Até o próprio ar parecia queimar sua pele.
O coelho não tinha como saber nem o que era, nem os efeitos da radiação que envenenava o ar, cada dia mais, fazendo com que seu pelo começasse a cair, deixando à mostra feridas e pústulas.
Não demorou muito e, num dia em particular, em que o ar fora da toca estava quente demais, ele se deitou e apenas esperou pela morte, sentindo que havia alcançado seu limite.
De repente ele sentiu as patas ásperas de uma barata, andando por todo seu corpo, se detendo e beliscando as áreas feridas, causando pequenas fisgadas de dor, que fizeram o coelho despertar cheio de ódio.
Ele se ergueu violentamente, as mãos sofreram uma alteração, se tornando iguais às de um ser humano, com dedões opositores, agarrando com força a barata e, com uma grande dentada, arrancou-lhe a cabeça.
O coelho, então, se colocou de pé sobre as patas traseiras, a mente simplória fervilhando com pensamentos que, antes do fim do mundo, lhe pareceriam até alienígenas, mas que agora faziam todo o sentido do mundo.
Dias depois, usando uma lança que ele mesmo fizera, voltou à superfície.
Chegara o dia em que o Coelho despertou e daria o primeiro passo para se tornar o senhor daquelas terras.
✍️ Conto por: João Norberto da Silva (@norberto_silva_escritor)
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