Meu dragão e eu estávamos cansados, pois o voo já durava horas. Peguei-me quase dormindo umas duas vezes sobre sua pele dura e escamosa e o mesmo aconteceu com meu companheiro de viagem, no qual precisei dar chacoalhadas para afastar o sono. O céu já havia escurecido faz um tempo e a Lua e as estrelas eram as únicas coisas que iluminavam a terra lá embaixo. Sobrevoávamos uma área montanhosa que parecia inabitada e que, para mim, não oferecia riscos caso decidíssemos descer e descansar. Ao aterrissar, Fênix – era assim que eu chamava meu dragão – deixou-se cair por completo em cima da superfície verdejante que recobria aquela montanha e adormecer.

— Ei, não durma agora! Preciso de você para fazer uma fogueira.

— Isso vai demorar. Você ainda vai ter que ir atrás de lenha e eu estou muito cansado para esperar.

— Então você prefere que passemos frio?

— Pare de reclamar. Basta deitar-se junto de mim que o meu calor é suficiente para nos manter aquecidos a noite toda.

Quase vencido pelo sono, aceitei a sugestão de Fênix e me acomodei junto a ele, que usou sua cauda para me cobrir. Adormecemos quase ao mesmo tempo e não lembro em que momento da noite acordei ouvindo um estalar próximo. Meus olhos lutavam para se manterem abertos e minha mente tentava entender o que eles viam: uma fogueira ardia próximo a nós, suas chamas e seu som eram hipnotizantes, deixando-me admirado com o brilho que afastava a escuridão reinante.

— Fênix, acorde!

— Não precisa despertá-lo — disse uma voz etérea que parecia vir da fogueira. — Não há nada a temer, caro viajante. Volte a dormir assim como o seu dragão. Vou zelar pelo sono de vocês.

Como que enfeitiçado, voltei a dormir embalado pelo ruído dos gravetos estalando. Ao despertar novamente, já era manhã, Fênix estava acordado e não havia nenhum sinal da fogueira. Estávamos recuperados do cansaço e nos sentindo revigorados. Voltamos aos céus para continuar nossa viagem e, ao olhar para trás por um instante, pude jurar que vislumbrei algo cintilar onde noite passada vi a fogueira. Pode ter sido só impressão, mas o sentimento reconfortante de proteção e confiança nos acompanhou durante todo o percurso.

✍️ Conto por: Arthur Anthones (@autorarthuranthones) | Sem imagem desta vez 🙁

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